Hoje, dia 16 de outubro, a Igreja celebra as memórias de Santa Edwiges e
Santa Margarida Alacoque. Por isso, vejamos abaixo a história de cada uma delas.

Santa Edwiges: o conúbio da vida religiosa com a vocação foi a matriz de seu feliz matrimônio

Bertoldo de Andech, Marquês de Meran, Conde do Tirol, Príncipe ou Duque da Caríntia e da Ístria era seu pai. Sua mãe, chamada Inês, era filha do Conde de Rotlech. Tiveram oito filhos, quatro meninos e quatro meninas; dois dos filhos foram bispos, ou sejam: Bertoldo, Patriarca da Aquiléia, Erberto, bispo de Bamberg; os dois outros, Henrique e Oton, seguiram a profissão das armas e sucederam ao pai no governo de seus Estados.

As filhas foram Edviges, Inês, tão famosa por causa do seu casamento com Filipe Augusto, rei da França, Gertrudes, rainha da Hungria, mãe de Isabel; a quarta foi abadessa de Lutzing, na Francônia, da ordem de São Bento.

Santa Edviges, foi internada nesse mosteiro desde criança e lá aprendeu as letras sagradas, que mais tarde lhe foram motivo de contínuo consolo. Com a idade de 12 anos, deram-na em casamento a Henrique, Duque da Silésia, e mais tarde também, Duque da Polônia, e, no estado do matrimônio, ela se conservou continente, na medida do possível.

Desde a primeira gravidez, quando apenas contava treze anos, convencionou com o príncipe, seu marido, separar-se dele até do parto, prática que continuou a observar além da abstinência do advento e da quaresma, assomo como dos outros dias santos. Depois de terem seis filhos, conseguiu que o Duque consentisse em guardar a continência perpétua; comprometeram-se a fazê-lo através de um voto, com a benção do bispo, e assim viveram cerca de trinta anos. Tendo o fato se tornado público, resolveram morar inteiramente separados, e raras vezes se viam, sempre na presença de testemunhas, a fim de não escandalizarem os fracos. O Duque vivia como um religioso, embora não houvesse professado, e deixava crescer a barba como os irmãos conversos dos mosteiros, de onde lhe veio a alcunha de Henrique, o Barbudo.

A santa Duquesa Edviges, persuadiu-o a fundar em Trebnitz, junto a Breslau, na Silésia, um mosteiro de religiosas da Ordem de Citeaux, cuja primeira abadessa foi Petrisssa, que a Duquesa tivera como governante na sua infância. Mandou-a vir de Bamberg com outras religiosas; a inauguração deu-se no ano de 1203, a consagração da igreja em 1219. Santa Edviges reuniu na nova ordem um número avultado de religiosas e ofereceu a Deus sua filha Gertrudes que depois foi abadessa. Edviges educou algumas jovens da nobreza e muitas outras, das quais algumas abraçaram a vida monástica; quanto às restantes, casava-as. Ela própria, frequentemente, se recolhia no mosteiro, mesmo em vida do Duque, seu marido, e dormia no dormitório das religiosas; depois instalou definitivamente em Trebnitz, junto ao mosteiro, mas não dentro dele, e vestiu o hábito das religiosas, sem professar, a fim de conservar a liberdade de socorrer os pobres com seus bens. Enfrentou com admirável paciência a morte do Duque Henrique, seu marido, ocorrida em 1238, e consolava as religiosas de Trebnitz, consternadas com aquela perda.

De tal forma praticava a abstinência que não comeu carne durante quarenta anos aproximadamente, dissesse o que dissesse, através de pedidos ou de censuras, o Bispo de Bamberg, seu irmão, ao qual dedicava muito respeito e amizade. Até que Guilherme, Bispo de Modena e Legado da Santa Sé, tendo ido à Polônia, e encontrando-a doente, a obrigou, por obediência a comer carne. Costumava alimentar-se com peixe e laticínios aos domingos, terças e quintas; às segundas e aos sábados, com legumes secos; às terças e sextas, contentava-se com pão e água. Tinha suprimido de suas vestes não apenas os adornos e os requintes, mas a comodidade e o essencial, quase, só usando uma túnica e uma capa; andava descalça, com freqüência, não obstante o frio comum àquela região. Carregava consigo um cilício de crina e disciplinava-se até o sangue correr.

Suas preces eram longas, fervorosas e quase contínuas; costumava assistir várias missas por dia, sendo que a cada uma delas dava uma intenção, e finalmente recebia a imposição das mãos do sacerdote. Operou vários milagres e tinha o dom da profecia; prevendo a proximidade de sua morte, fez questão de receber a extrema-unção antes de adoecer. Enfim faleceu no dia 15 de Outubro de 1243. Determinada que seria enterrada no cemitério das religiosas, mas a abadessa, sua filha, não consentiu nisso e, contra o desejo por ela expresso, mandou colocá-la na igreja, na frente do altar principal.

As religiosas sofreram muitos aborrecimentos, tal como a santa predissera, por causa do grande número de pessoas que vinha rezar junto ao seu túmulo, no qual ocorreram numerosos milagres. Em vista disso, o bispo e os duques da Polônia, providenciaram junto à Santa Sé a canonização de Edviges, efetuada depois das informações de praxe pelo Papa Clemente IV, no dia 26 de Março de 1267. O Papa Inocêncio IX fixou sua festa no dia 17 de Outubro. [1]

Santa Margarida Maria Alacoque: a mensageira do Sagrado Coração de Jesus

Quando Margarida tinha apenas quatro anos de idade, começou a sentir- se levada a dizer diversas vezes: “Ó meu Deus, eu Vos consagro minha pureza e Vos faço voto de castidade perpétua”.

Algo surpreendente numa menininha daquela idade, que nem sabia o que isso significava – como diria mais tarde em suas memórias. Era já o início extraordinário da história desta alma, na qual a graça divina agia preparando-a para pertencer somente a Jesus. Assim, ela poderia cumprir eximiamente uma crucial missão em benefício da humanidade: ser a mensageira do Sagrado Coração.

Luta entre a vocação e o atrativo pela vida comum

Margarida nasceu em 22 de julho de 1647 na Borgonha, França. Seu pai era juiz e notário real, mas homem de pequenas posses. Quando tinha 8 anos de idade, foi surpreendida pelo falecimento de seu pai, e a família precisou enviá-la para a escola das clarissas de Charolles.

Ali, uma estranha enfermidade reduziu-a a um tal estado de debilidade que, ao cabo de algum tempo, sua mãe a levou de volta para casa.

“Passei quatro anos sem poder caminhar”, dirá ela depois. Vendo a ineficácia dos remédios, voltou-se para a Virgem das Virgens e fez-lhe o voto de entrar para a vida religiosa, se ficasse curada. Foi atendida com rapidez, restabelecendo-se instantaneamente.

Entretanto, quando Margarida completou 17 anos, sua mãe e seus irmãos decidiram que ela devia se casar.

Deixando-se levar pelo amor filial, a jovem aos poucos começou a tomar parte nos folguedos de sua idade – embora se guardando de ofender a Deus – e a acariciar a idéia de contrair matrimônio, mesmo porque já tinha vários pretendentes. No seu interior travou-se então uma demorada e intensa batalha: de um lado, a atração pela vida comum lhe sussurrava ser até um dever de piedade filial constituir um lar, pois assim poderia amparar melhor sua mãe enferma.

De outro, a voz da graça lembrava- lhe o voto de castidade perfeita que fizera já na infância, bem como a promessa de fazer-se esposa de Cristo. Não importa, você era muito criança para entender o que dizia, portanto, essas promessas não tinham valor; você agora é livre! – era a resposta que lhe vinha em seguida à mente.

Esse cruel embate de alma durou alguns anos. Mas, ajudada de modo sensível por Nosso Senhor, a vocação religiosa acabou por vencer: em 1671, ela entrou como postulante no Mosteiro da Visitação, de Paray-le- Monial.

Santa ou visionária?

Desde a infância, Margarida fora beneficiada por experiências místicas.

As mais importantes, porém, ocorreram no convento, a partir de 27 de dezembro de 1673, quando passou a receber uma série de revelações do Sagrado Coração de Jesus, o qual a incumbia de ser a encarregada de divulgar essa devoção. As três superioras que, a cada seis anos, assumiram sucessivamente a autoridade no convento de Paray-le-Monial convenceram-se da santidade de Margarida e da autenticidade das revelações que recebia. Contudo, ela sofreu acirrada oposição dentro da comunidade, que a tratava como uma excêntrica visionária. Seu principal apoio veio de São Cláudio de la Colombière, jovem sacerdote jesuíta que foi durante certo tempo confessor das freiras e testemunhou serem reais as visões da Santa.

São Cláudio foi enviado à Inglaterra, como confessor da duquesa de York – esposa do futuro rei Jaime II -, e ali pregou pela primeira vez a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, obtendo várias conversões entre as damas da nobreza. No entanto, sofreu perseguição em virtude de um complô anti-católico, e passou um tempo na prisão. De volta à França, com a saúde abalada, poucas vezes pôde encontrar-se com Santa Margarida, morrendo muito cedo. Sua partida deste mundo, porém, não abalou a religiosa. Por sua perseverança, docilidade, espírito de obediência e caridade, ela acabou vencendo as oposições e conseguiu cumprir sua missão, começando por introduzir em 1686 – no início para um círculo restrito de seu próprio convento – a festa do Sagrado Coração de Jesus. Esta se espalhou com rapidez por outros mosteiros da Visitação, e transbordou para o exterior da congregação.

Após uma existência na qual consumiu- se sem cessar no amor ao Sagrado Coração de Jesus, Santa Margarida Maria Alacoque morreu em 17 de outubro de 1690, aos 43 anos de idade. Foi canonizada por Bento XV em 1920. Seu corpo está colocado sob o altar da capela do convento onde viveu, e os peregrinos que ali vão rezar a ela alcançam insignes graças. [2]

[1] Fotos: santiebeati.it
(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XVIII, p. 253 à 256)
[2] Revista Arautos do Evangelho, Jun/2006, n. 54, p. 22 e 23)


Fontes: Arautos do Evangelho