Neste dia 24 de setembro, a Igreja celebra o dia de Nossa Senhora das Mercês.
Por isso, veja um pouco da sua história.

Consuelo puxou distraidamente a corda para retirar água. Mas o balde escorregou para o fundo, fazendo-a perder o equilíbrio…

Perto de uma pitoresca aldeia, situada em região montanhosa e um tanto árida, um poço abastecia com fartura os seus habitantes. De suas águas serviam-se para beber, cozinhar e lavar as roupas, como costumavam fazer as mulheres na esplanada onde ele fora cavado.

Nesse tranquilo lugarejo, todos se conheciam, eram muito amigos e participavam animadamente das grandes festas preparadas pelo Sr. Antônio, o corpulento dono da confeitaria; ninguém faltava às incontáveis comemorações religiosas promovidas pelo pároco, às quais aquela boa gente assistia com espírito de oração e recolhimento.

Tudo era ocasião de encontro e convívio, inclusive ao redor do poço, onde os moradores entabulavam animadas conversas ou sussurravam confidências, aproveitando o tempo gasto em tirar a água necessária. Assim, eles formavam quase que uma grande família.

Consuelo era uma camponesa que lá ia com frequência. Sua casinha sempre estava bem arranjada, e ela fazia questão de cultivar viçosas flores para agradar seu marido, Norberto, um pequeno agricultor que passava o dia no duro trabalho do campo. Ambos tinham muita devoção à Virgem das Mercês, padroeira da aldeia, e nunca deixavam de honrá-La no dia de sua festa.

Quase todas as manhãs, Consuelo ia ao poço, para aproveitar bem o sol e poder levar de volta para casa, já secas, as roupinhas de seus pimpolhos: Estevão, de onze anos, que cuidava de seus irmãos menores com muita responsabilidade; Catarina, de nove, de inteligência viva, mas discreta; e Benjamin, com apenas cinco, aliás, muito travesso. Enquanto trabalhava, a diligente mãe cantava hinos a Maria Santíssima ou rezava o Rosário com suas amigas. Por fim, com um zelo todo maternal, recolhia e dobrava cuidadosamente a roupa seca, enchia uma grande tina de água para o abastecimento da casa e regressava ao lar, não sem antes despedir-se alegremente das companheiras.

O tempo foi passando, e o parapeito do poço deteriorava-se aos poucos, até que um dia as intempéries acabaram por destruí-lo completamente. A partir daí, não era possível tirar água sem correr certo risco: era preciso puxar com habilidade a corda do balde, sem se deixar levar por ela.

Uma manhã, Consuelo acordou muito cedo e chegou ao poço bem antes de suas amigas. Enquanto contemplava no céu as belas cores do amanhecer, puxou distraidamente a corda, o balde voltou para o fundo, fazendo-a perder o equilíbrio. Ela procurou instintivamente apoiar-se no parapeito que já não estava mais ali… E caiu a vinte metros de profundidade!

Virgem das Mercês, ajudai-me!

Nem havia terminado a invocação a Nossa Senhora, quando sentiu debaixo de seus pés um apoio suave. Fixando os olhos, percebeu que se tratava de algo semelhante a uma pequena nuvem luminosa, que foi descendo lentamente e parou antes de tocar na água.

– Socorrei-me! Valei-me, Virgem Maria! – suplicou de novo.

Enquanto continuava sustentada pela graciosa nuvenzinha, uma voz cheia de ternura e compaixão lhe respondeu:

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Consuelo procurou instintivamente apoiar-se no parapeito que já não estava mais ali… E caiu a vinte metros de profundidade!

– Minha filha, não tenha medo! Eu nunca abandonei nenhum daqueles que invocaram o Meu auxílio.

Ao ouvir essa voz tranquilizadora, a boa camponesa percebeu de Quem se tratava, e ficou de tal modo encantada que nem se lembrava mais do apuro no qual se encontrava…

Passada meia hora, chegaram suas amigas. Estas, vendo o sabão e a roupa na tina, mas não a companheira, logo desconfiaram do que tinha acontecido, correram para a boca do poço e lançaram-lhe uma corda. Como se estivesse auxiliada por uma força misteriosa, Consuelo agarrou-se a ela e, apoiando-se nas paredes de pedra, empreendeu a escalada até a superfície. Estava sã e salva!

As amigas a abraçaram e, passado o susto, perguntaram o que tinha acontecido. Ela narrou-lhes o fato com detalhes, deixando patente que havia sido um grande milagre da Virgem das Mercês, sem cujo socorro teria certamente morrido afogada. Juntas, se ajoelharam ali mesmo, para rezar uma oração em ação de graças a Nossa Senhora, que jamais, em nenhuma circunstância, desampara os filhos que a Ela recorrem.

Em seguida, foram contar o fato ao pároco e visitar a Santa Padroeira, na igreja matriz. O bom sacerdote ficou comovido e mandou erigir naquele lugar uma ermida dedicada a Nossa Senhora das Mercês. Não sem antes providenciar a construção de um novo e resistente parapeito, para evitar novos acidentes…

“Nossa Senhora das Mercês” – Basílica da Vitória, Málaga (Espanha)

Na inauguração da ermida, o padre organizou uma bela procissão – que percorreu um bom caminho, desde a matriz até a esplanada do poço -, e ali foi entronizada a encantadora imagem de Maria Santíssima, que passou a ser venerada pelos moradores do povoado como a “Virgem do Milagre”.

E para marcar ainda mais o grande feito, colocaram uma placa alusiva ao prodígio, dando àquele lugar o nome de “Poço do Milagre”.

A notícia propagou-se pelos arredores da aldeia. Assim, a fé e a confiança na Rainha dos Céus cresceram ainda mais nos habitantes da região, pois novamente ficou comprovada a verdade das inspiradas palavras de São Bernardo, dirigidas à Mãe de Deus: “Nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tenha recorrido à Vossa proteção, implorado Vossa assistência e reclamado Vosso socorro, fosse por Vós desamparado”.

(Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2010, n. 104, p. 46-47)


Fonte: Arautos do Evangelho