Santa Brígida nasceu na Suécia, por volta de 1303, em Finsta, região pertencente à província de Uppland. De nobre família, casou-se ainda muito jovem com o governador de Ostugtland, Ulf Gudmarson, com quem teve oito filhos.
A reputação e piedade de Santa Brígida levaram o rei a solicitá-la como dama da corte de sua esposa, a Rainha Branca de Namur, a fim de que a instruísse no bom caminho. Porém, a vida de corte não era o que Brígida almejava, e retirou-se dali pouco tempo depois.
Junto com o esposo, Brígida ingressou na Ordem Terceira de São Francisco e empreendeu muitas obras de caridade, bem como peregrinações a diversos santuários da Europa, entre os quais, Santiago de Compostela.
Numa dessas viagens, Ulf caiu gravemente enfermo, mas pelas preces da esposa pôde se recuperar. Algum tempo depois, Ulf resolveu ingressar no mosteiro cisterciense de Alvastre, onde morreu em 1344. Após a morte do marido, Santa Brígida dividiu os betis entre os filhos e os pobres da região, e consagrou-se inteiramente à penitência e à contemplação da Paixão de Jesus.
Em 1349, desejando participar das festividades do jubileu de 1350, deslocou-se até Roma onde permaneceu a fim de conseguir do Papa a aprovação das regras da Ordem Religiosa do Santíssimo Salvador, a qual desejava fundar.
Em toda a sua vida, principalmente nesse período, foi agraciada com diversas revelações místicas, sobretudo referentes à Paixão de Jesus e à vida da Santíssima Virgem, além do dom de profecia. Muito sofreu da parte dos que não compreendiam sua vida mística.
Em 1371, empreendeu uma peregrinação a Jerusalém. Voltando a Roma, já bastante debilitada, entregou sua alma a Deus no dia 23 de julho de 1373. Duas décadas mais tarde, em 1391, foi canonizada pelo Papa Bonifácio IX e, em 1999, proclamada Copatrona da Europa, por João Paulo II.
Comentários de Plinio Correâ de Oliveira
Santa Brígida foi casada com um homem de um gênio muito difícil e que provou muito o temperamento dela. Ela era uma pessoa muito irritadiça e, naquele contato com o marido, teve que se dominar e acabou, afinal de contas, vencendo o gênio muito desagradável, muito duro que ela também tinha.
Ao final da vida, teve que retomar a batalha
Depois disso, ela fez uma peregrinação para o Oriente, santificou-se e voltou para Roma, tendo renunciado à condição régia que possuía e vivendo como uma espécie de freira.
Quando a Santa chegou ao fim da vida, em que a grande luta tinha sido contra o seu temperamento impulsivo, o mau gênio, aparece uma coisa que para ela foi uma catástrofe: todo aquele mau gênio renasceu, e aquela luta parecia perdida. Ela tinha conseguido dominar seu temperamento, reduzir aqueles ímpetos, e via aquilo tudo ressurgir desabotoadamente; teve que retomar a luta, venceu e então morreu em paz.
Comentam os hagiógrafos que isso não significava que Santa Brígida tivesse dado algum consentimento ao mau gênio, nem era um fenômeno de decadência espiritual dela. Mas Nossa Senhora, que tinha sopitado esse mau gênio por urna graça especial, permitiu-lhe uma última prova, fazendo-a passar por urna situação com características de coisa absurda, sem sentido.
Porque é mais ou menos sem sentido uma vida durante a qual a pessoa constrói uma obra espiritual e, de repente, esta parece desabar. Deve-se ler confiança na Providência e, mesmo na velhice, retornar aquele trabalho espiritual.
Situações que parecem sem sentido
Ela não tinha nenhuma culpa pelo que estava sucedendo e, com uma grande sujeição e confiança na Santíssima Virgem, refez todo o trabalho para apresentar a sua alma ao Criador.
Parecia, portanto, uma espécie de cúmulo o vencer o mau gênio. Mas a última coisa, depois do mau gênio completamente vencido, era aceitar a provação enviada por Deus.
Exatamente aqui está um requinte da vida espiritual, a respeito do qual nunca será suficiente insistir. A Providência Divina nos pede, em muitas ocasiões da vida, que enfrentemos situações que parecem sem sentido, que caminhemos de encontro a muralhas que não têm portas, a mares que não têm fundo, a obstáculos que não têm solução, e depois, quando nos aprofundamos, aquilo se abre, se move, e continuamos a avançar.
Isso é frequentíssimo na vida espiritual, bem como na vida de apostolado e na vida privada. Nossa Senhora faz essas coisas para as almas a quem Ela chama às mais altas finalidades e ama mais especialmente. Essa espécie de contrassenso é exatamente uma prova de amor.
Preparar o espírito para a provação
O que pede uma prova de amor? Uma fé cega, depois da qual vem sempre uma grande graça.
Digo isto para alguém que esteja nessas condições, mas também para os que não estão, porque é preciso preparar o espírito para provas dessas.
A pessoa não compreende por que a prova vem, e passa a provação toda protestando. Entretanto, se não protestasse, tornaria a prova mais breve e, no fim, compreenderia o sentido que aquilo tem.
É mesmo urna constante de muitas vocações excelentes. De maneira que é necessário preparar o espírito para essa ideia e enfrentar a prova, porque Nossa Senhora é assim bem servida. Tanto no Antigo corno no Novo Testamento, encontramos homens de Deus, especialissimamente amados por Ele, que são provados por essa forma. Devemos ir preparando reservas de energia de alma, de disposição, para quando isso acontecer.
Uma das piores provas que podemos atravessar durante a vida é a impressão de que estamos diante de coisas sem sentido, e não há mais solução nem caminho para nada; e, depois, vemos que há solução e caminho, e tudo no final se esclarece.
Uma tentação que se apresentou ao jovem Plinio
Desculpem-me exemplificar com uma reminiscência particular, mas a vida inteira me causou verdadeiro horror a ideia de briga entre católicos. A única tentação que tive em minha vida de deixar o movimento católico foi logo no comecinho das minhas atividades, quando um senhor tentou provocar uma cisãozinha contra mim, na minúscula Ação Universitária Católica’ daquele tempo.
Fiquei fortemente tentado de desânimo. Lembro-me ainda de mim, andando de bonde pelo Viaduto do Chá para ir a uma reunião deles, numa noite chuvosa e ruim, e eu tomando todos os ventos no bonde aberto, de pernas trançadas e lutando contra aquela tentação de deixar tudo. A minha ideia era esta: “Sou feito para lutar contra os inimigos da Igreja, e não para lutar contra os filhos dela.”
Tempos depois, eu li uma biografia de Santa Teresa de Jesus, que me agradou muito. Quando terminei a leitura, fechei o livro e pensei: “Está bem, graças a Deus isso é para ela, mas eu fui suscitado para lutar contra a Revolução; não para combater dentro da Igreja.”
Se eu tivesse podido prever tudo o que veio depois, talvez desmaiasse. Ora, tive que aceitar uma realidade que durante muito tempo me pareceu um completo contrassenso.
Quantos outros absurdos dentro de minha vida eu poderia apontar. Pilhas de disparates, de situações que não têm sentido, simplesmente, mas que se vai enfrentando, se adaptando, fazendo-se pequeno, obedecendo à vontade de Nossa Senhora que fala pela voz dos acontecimentos e, depois, vai-se compreendendo que devia ser, e que foi bom que tivesse sido assim.
Calma, segurança e certeza
Eu recomendaria muito àqueles que tenham de trilhar veredas semelhantes àquelas trilhadas por mim que, me ditando a respeito disto, se preparassem para enfrentar esses contrassensos. É uma forma de ato de humildade compreender que devemos nos colocar diante de Maria Santíssima como escravos, feitos para obedecer sem discutir. Ela é quem manda, quem dispõe e, portanto, tem o direito de nos fazer passar pelas evoluções que entender para, afinal de contas, chegarmos aos resultados que Ela quiser. Porque isto é obediência, confiança e amor.
Peçamos a Santa Brígida para vincar bem esta ideia em nosso espírito: calma, segurança e certeza de que tudo se resolve e tudo se explica, mesmo nos momentos em que tudo parece insolúvel e inexplicável.
(Extraído de conferência de 8/10/1964).
Fonte: Arautos do Evangelho
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