Esse é um dito da sabedoria popular, tantas vezes confirmado no nosso dia a dia. Seria válido para quem tivesse a alegria e a graça de conviver com Jesus?
Mesmo com base nos Evangelhos as respostas podem ser desencontradas: para uns Jesus era apenas “o filho do carpinteiro”, para outros era o Messias tão esperado, o Filho de Deus.
O artigo do Mons. João Clá, Fundador dos Arautos do Evangelho condensado a seguir pode esclarecer o assunto.
APARÊNCIA E REALIDADE (*)
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Na aparência, a vida de Jesus até cerca de 30 anos transcorreu como a de um homem comum. Velando os reflexos de sua divindade, ajudava o pai no serviço e era conhecido como “o filho do carpinteiro” (Mt 13, 55),
Embora Jesus e José fossem bem conceituados na pequena Nazaré, pela honestidade, perfeição e responsabilidade com que executavam seus trabalhos, é evidente que tal apreciação estava muito aquém de sua autêntica dignidade.
Entretanto, em certo momento morre São José e, algum tempo depois, Nosso Senhor começa o seu ministério, dirigindo-Se a cidades mais importantes do que Nazaré. Conforme narram os evangelistas, Ele “percorria toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, curando todas as doenças e enfermidades entre o povo”(Mt 4, 23).
Sua fama logo se difundiu “por todos os lugares da circunvizinhança” (Lc 4, 37), de sorte que “onde quer que Ele entrasse, fosse nas aldeias ou nos povoados, ou nas cidades, punham os enfermos nas ruas e pediam-Lhe que os deixassem tocar ao menos na orla de suas vestes” (Mc 6,56).
Quando instruía o povo, “maravilhavam-se da sua doutrina, porque Ele ensinava com autoridade” (Lc 4, 32) e, ao operar milagres, provocava assombro a ponto de suscitar a exclamação das multidões: “Jamais se viu algo semelhante em Israel” (Mt 9, 33).
Uma simples ordem d’Ele fez cessar a tempestade e acalmou o mar, impressionando tanto os discípulos, que estes se perguntavam uns aos outros: “Quem é este Homem a quem até os ventos e o mar obedecem?” (Mt 8, 27).
Todavia, esse impacto por Ele causado produzia incômodo nos judeus. Por quê?
ESPERAVAM UM MESSIAS TEMPORAL
A classe mais alta da sociedade judaica era constituída pelos saduceus e fariseus, dois influentes partidos religiosos que se digladiavam. Enquanto os primeiros, acomodados aos privilégios de que gozavam, pouco se preocupavam com a vinda do Messias, os fariseus incutiam uma ideia equivocada, segundo a qual o principal objetivo do Salvador seria o de promover a supremacia político-social e econômica de Israel sobre todas as outras nações da Terra.
Ora, diversas características apresentadas por Nosso Senhor não coincidiam com tal anseio. Se, sob certo aspecto, Jesus superava as expectativas messiânicas, também é verdade que várias vezes a opinião pública mostrava-se chocada em relação a Ele.
Quando — depois da multiplicação dos pães e de ter caminhado sobre as águas — anunciou a Eucaristia, declarando: “Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que Eu hei de dar, é a minha Carne para a salvação do mundo” (Jo 6,51), os judeus se escandalizaram, pois interpretaram suas palavras no sentido de canibalismo. Inclusive, “desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com Ele”(Jo 6, 66).
Nesta mesma ocasião o Mestre perguntou aos Doze: “Quereis vós também retirar-vos?” (Jo 6, 67), como a dizer: “a opinião pública abandonou-Me; não quereis segui-la?”. E São Pedro Lhe respondeu: “Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (Jo 6, 68).
UM MÉTODO PARA FORMAR OS APÓSTOLOS
A Paixão estava próxima e era preciso separar definitivamente os Apóstolos da sinagoga— da qual eram membros fervorosos —, deixando-lhes claro que a instituição que Ele vinha fundar levaria aquela à plenitude e seria a realização de todas as profecias da Antiga Lei.
Na pergunta formulada pelo Divino Mestre — “Que dizem os homens ser o Filho do Homem?” — podemos entrever o interessante método empregado para formar os Apóstolos.
Estes foram comprovando por si, ao ouvirem as pregações e presenciarem os milagres, o quanto Ele era um Mestre incomum. Entretanto, se não houvesse uma revelação, eles jamais cogitariam ser Jesus o próprio Deus! Nem sequer os Anjos, no estado de prova, chegariam a esta conclusão por si mesmos, pois o mistério da união hipostática é algo que escapa completamente não só à inteligência humana, como também à angélica. (1) Os demônios não tinham, por isso, uma noção clara a respeito da divindade de Cristo. (2)
Deste modo, velava aos olhos dos homens os fulgores de sua divindade, não permitindo que eles percebessem com clareza quem Ele era: a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, igual ao Pai e ao Espírito Santo.
A tal ponto que, na Última Ceia, São Filipe ainda pede a Jesus para lhes mostrar o Pai, e recebe d’Ele esta resposta: “Há tanto tempo que estou convosco e não Me conheceste, Filipe! Aquele que Me viu, viu também o Pai” (Jo 14, 9).
“E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?”
Na segunda pergunta — “E vós, quem dizeis que Eu sou?” — é importante ressaltar como o Divino Mestre Se refere a Si mesmo, pois já não diz “o Filho do Homem”, mas indaga: “quem dizeis que Eu sou?”.
São Pedro, cujo temperamento expansivo o levava a dizer tudo quanto pensava, adiantou-se a responder: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”!
[Jesus lhe diz:] “Por isso Eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la”
Com tais palavras Cristo dá a Pedro o poder divino, absoluto e inabalável, de sustentar a Santa Igreja e a garantia da infalibilidade, ao declarar que suas decisões na Terra serão ratificadas no Céu — “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus; tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus”. (Mt 16, 16-19)
O CARISMA DA INFALIBILIDADE
Graças ao carisma da infalibilidade o Sumo Pontífice não erra quando se pronuncia ex cathedra, “isto é, quando, no desempenho do múnus de pastor e doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica que determinada doutrina referente à Fé e à moral deve ser sustentada por toda a Igreja”.(3)
Dir-se-ia ser um perigo depositar tal tesouro nas mãos de um homem… Sim, caso não fosse Deus o Doador! Quem o entrega a São Pedro é o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo e, na realidade, é Ele quem governa a Igreja.
Se nela houve abusos e desvios ao longo da História, foram por Ele permitidos para provar que, ainda que o elemento humano esteja presente, sempre prevalecerá o elemento divino.
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