“Bendita és tu entre as mulheres … (Lc 1, 42). De onde me vem (a honra de) que a mãe de meu Senhor me visite?” (Lc 1, 43

 

No mundo atual, não há quem não tenha tomado contato, visto, e mesmo experimentado a pressa.

Corre-se para não chegar atrasado em um compromisso, corre-se para fazer um negócio e lucrar muito dinheiro, corre-se atrás de bons estudos e da boa fama. Enfim, corre-se a todo o momento e por qualquer motivo. As invenções técnicas e científicas, como automóveis, aviões, celulares e internet concorreram para acelerar, ainda mais, o ritmo de vida.

O homem contemporâneo bem poderia ser qualificado de ‘o homem do corre-corre’, que depois de tanto correr, nada alcançou além de decepções, frustrações e calamidades.

Alguém, deformado pelos conceitos hodiernos, abrindo as páginas do Evangelho, encontraria dificuldades em compreender esta curta, mas intensa frase: “Naqueles dias, Maria levantou-se e dirigiu-se apressadamente às regiões montanhosas da Judéia” (Lc 1, 39).

Qual seria a razão de uma jovem, consagrada ao Templo desde a sua infância e criada nas sublimes delícias da contemplação, lançar-se de tal modo na ação? Ademais, acabara de se dar o acontecimento ápice, não só da vida dela, mas de toda a História: concebera pela ação do Espírito Santo. Ou seja, em suas entranhas puríssimas, o próprio Filho Unigênito de Deus, gerado e não criado, consubstancial ao Pai, para nossa salvação, assumira nossa carne. Aquele a quem os céus não podiam conter, encerrara-se no seio de Maria. Haverá graça mais sublime? Existirá ocasião mais propícia para os mais altos êxtases? Que meditações e contemplações não poderiam derivar desse convívio?! Não seria a hora d’Ela recolher-se e aproveitar os nove meses de intimidade mais completa e absoluta com Seu Filho e Seu Deus?

Entretanto, o Evangelho nos narra ter a Virgem, logo após a Anunciação, levantado e se dirigido apressadamente até a Judeia, empreendendo essa viagem a fim de ajudar sua prima Isabel.

Que pressa era esta que a movia? Algum interesse pessoal? Poderia se cogitar, sem blasfemar, que na alma imaculada de Maria existisse alguma agitação?

Como resposta a essas perguntas, bem poderíamos pôr nos lábios da Virgem as palavras do profeta Elias: “Zelus zelatus sum pro Domino Deo Exercituum” (1Rs 19,14). Sim, o zelo pela causa de Deus a consumia, tomava todo o seu ser e impulsionava-a, se necessário fosse, a correr por toda a Terra para servi-lO e glorificá-lO.

Essa viagem era empreendida por Ela sem abandonar em nenhum instante a clave altíssima de suas contemplações. Maria queria servir sua prima, não por afeição familiar ou mera filantropia, mas por amor a Deus. A virtude da Caridade a levava a ajudar Isabel e o menino João, corporal e espiritualmente, santificando a criança ainda no ventre materno e produzindo em sua prima extraordinárias manifestações de enlevo e admiração pelo Messias ali presente.

Portanto, qual é a diferença entre essa santa pressa de Maria Santíssima na visitação a Sua prima Santa Isabel e a pressa do mundo moderno?

Hoje, corre-se, impacientemente, por interesse próprio, enquanto Nossa Senhora indicou que os homens devem ser pressurosos na caridade, uns para com os outros, auxiliando com entusiasmo, sem egoísmo ou delongas, a que se encontre já nesta Terra o Caminho, a Verdade e a Vida.

No encontro de Maria com Isabel temos um exemplo de perfeição, e na rejeição do Redentor por parte dos seus, um exemplo de perversidade. Diante desses dois modelos, cabe nos perguntarmos: como será a visita de Deus aos nossos corações?

Dependerá de cada um…

Quantas visitas nos oferece o Criador a todo momento! Mas os efeitos de sua divina presença variarão de acordo com a atitude tomada ao recebermos o Hóspede das almas. Muitos rejeitam suas visitas, outros as desaproveitam, e poucos são os que O acolhem com alegria. Quando alguém ouve a voz do Senhor e Lhe abre a porta de sua casa, Ele entra para cearem juntos (cf. Ap 3, 20).

Em Fátima, a Mãe de Deus visitou o mundo e nos deixou sua Mensagem, convidando-nos a conversão, a prática da oração do Rosário e a devoção a seu Imaculado Coração. Sábado próximo será o primeiro sábado do mês, onde poderemos cumprir esse pedido de Nossa Senhora.

Não sejamos nós ingratos, mas – como Isabel – recebamos de coração aberto a visita de Deus e de Maria Santíssima!


Fontes: [texto adaptado] Instituto Filosófico Santa Escolástica
Apostolado do Oratório