O Papa São Pio X, é conhecido como o “Papa da Comunhão precoce” por ter propiciado às crianças receberem a Primeira Comunhão logo que chegassem ao uso da razão.
Costumava afirmar, provavelmente antevendo os frutos dessa sua decisão:
— Vós ainda vereis muitas crianças santas.
Mons. João Clá Dias, EP, Fundador dos Arautos do Evangelho afirma: “A criança não conhece a mentira, a falsidade nem a hipocrisia. Sua alma se espelha inteiramente em sua face; sua palavra traduz com fidelidade seu pensamento, com uma franqueza emocionante. Ela não tem as inseguranças da vaidade ou do respeito humano. Em uma palavra, ela e a simplicidade constituem uma sólida união” ⁽¹⁾.
Vem muito a propósito dar aqui uma breve resumo da vida de uma dessas crianças.
Nennolina
Antonietta Meo, carinhosamente apelidada pela família de Nennolina, nasceu em 15 de dezembro 1930 sendo batizada no dia 28, dia dos Santos Inocentes, na paróquia onde residia: Santa Cruz de Jerusalém, onde se conservam algumas das principais relíquias da Paixão.
A infância de Antonieta transcorria como a de qualquer outra menina: “alegre, muito vivaz e travessa, como são as crianças nessa idade” diz Margarida, sua irmã mais velha ⁽²⁾.
Aos três anos quis frequentar o Colégio das Irmãs do Sagrado Coração, ao lado de sua casa, pois gostava de estar entre as religiosas: “Eu me divirto muito na escola… iria até a noite!” Mas a razão mais profunda, ela a externou numa de suas mensagens a Jesus: “Vou com entusiasmo, porque aí se aprendem muitas coisas bonitas sobre Ti e teus Santos”.
Terrível diagnóstico
Sua vida foi tranquila até que, completados os quatro anos, os pais perceberam estar Nennolina com o joelho esquerdo inchado. Pensaram ser consequência de uma queda em alguma brincadeira, mas vendo que não melhorava, submeteram-na a exames médicos, cujo resultado foi um terrível diagnóstico: câncer nos ossos.
Tentaram tratamentos inúteis e penosos, mas dois meses depois, tornou-se necessário amputar-lhe a perna esquerda. A frágil criança suportou tudo com valentia e consolava os pais, muito chocados e abatidos.
Com inteira consciência, apesar de tão jovem idade, oferecia a Deus seus padecimentos pela Igreja, pelo Papa, pela paz no mundo, pela salvação dos pecadores, pelos missionários e pelas crianças da África.
Primeira Comunhão
Os pais decidiram antecipar sua Primeira Comunhão. A mãe ensinava-lhe, todas as noites, uma parte do Catecismo. Numa dessas aulas teve início seu conhecido costume de escrever cartinhas a Nosso Senhor.
Tudo começou quando, por sugestão da mãe, escreveu à superiora do convento onde estudava, pedindo para fazer a Primeira Comunhão no Natal daquele ano. A partir desta primeira, as cartas não mais cessaram. Antonieta as enviava a Deus Pai, a Jesus, ao Espírito Santo, a Nossa Senhora, a Santa Inês e a Santa Teresinha.
As mensagens anteriores à Primeira Comunhão sempre expressam seu ardente desejo de recebê-Lo: “Caríssimo Jesus-Eucaristia, saudações e carícias, caro Jesus, e beijos. Não vejo a hora de receber-Te em meu coração, para amar-Te mais”.
Ela concluía as cartas com caudais de beijos e abraços, como esta: “Quero repetir-Te que Te amo muito, muito. […] Tua menina Te manda muitos beijos”. Noutra carta dizia: “ Ajuda-me Jesus, pois sem a vossa graça eu não posso nada”.
Afinal, chegou a tão almejada Primeira Comunhão. Apesar das dores causadas pelo aparelho ortopédico, Nennolina permaneceu ajoelhada por mais de uma hora fazendo a ação de graças. Em maio de 1937 recebeu o Sacramento da Crisma.
O calvário da inocência
A amputação de sua perna não fora suficiente para deter o avanço do câncer. Aproximavam–se a passos rápidos seus últimos dias. Sua mãe, que pediu a um sacerdote para trazer-lhe todos os dias a Sagrada Eucaristia, relata: “As horas que se seguiam à Comunhão eram sempre mais tranquilas”.
Sua última carta — que acabou indo parar nas mãos do Papa Pio XI —, ela a ditou com dificuldade: “Caro Jesus crucificado, eu Te quero muito e Te amo muito, eu quero estar no Calvário contigo e sofro com alegria porque sei que estou no Calvário. Caro Jesus, eu Te agradeço porque me mandaste esta doença, que é um meio para que eu chegue no Paraíso. Caro Jesus, dize a Deus Pai que amo muito também a Ele. Caro Jesus, dá-me a força para suportar as dores que Te ofereço pelos pecadores…”.
Sua última carta — que acabou indo parar nas mãos do Papa Pio XI —, ela a ditou com dificuldade: “Caro Jesus crucificado, eu Te quero muito e Te amo muito, eu quero estar no Calvário contigo e sofro com alegria porque sei que estou no Calvário. Caro Jesus, eu Te agradeço porque me mandaste esta doença, que é um meio para que eu chegue no Paraíso. Caro Jesus, dize a Deus Pai que amo muito também a Ele. Caro Jesus, dá-me a força para suportar as dores que Te ofereço pelos pecadores…”.
Ida para a pátria
Em junho a doença agravou-se ainda mais. Respirava com dificuldade, sendo preciso extrair-lhe líquido dos pulmões. No dia 23 o cirurgião fez a resseção de três costelas, aplicando apenas anestesia local. Conta a mãe: “Ela me olhou e disse com ternura: ‘Mamãe, alegre-se, fique contente… Dentro de dez dias, menos um pouco, sairei daqui”.
Após receber a Unção dos enfermos, em 3 de julho de 1937, abriu os olhos e sussurrou: “Jesus, Maria… Mamãe, Papai…”. Em seguida, sorriu e deu seu último suspiro.
⁽¹⁾ CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. “Se não vos tornardes como meninos não entrareis no Reino dos Céus”. In: O inédito sobre os Evangelhos, Libreria Editrice Vaticana, 2012, vol.V, p.124.⁽²⁾ Adaptação do artigo “Inocência abraçada à Cruz”, Irmã Mary Teresa MacIsaac, EP, na Revista Arautos do Evangelho, nº 144, dezembro de 2013, pp. 34-37.
Fonte: Arautos do Evangelho
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