Uma preciosidade cravada no coração do Pelourinho está de volta à vida da capital baiana e de todo o mundo. Patrimônio Cultural Mundial, o Centro Histórico de Salvador (BA) recebe de volta sua Catedral Basílica, símbolo da arte sacra e da arquitetura religiosa no Brasil. No próximo dia 14 de setembro, uma solenidade celebrará a entrega da obra de restauração dessa, que é uma das mais importantes construções sacras do Brasil Colonial. Testemunho da história e do catolicismo no país, o templo possui, também um acervo de grande valor, com telas de diversos autores seiscentistas, móveis em jacarandá e diversos objetos sacros em ouro e prata.
Todo esse tesouro foi restaurado com recursos de mais de R$17,8 milhões do Governo Federal, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e agora voltará a fazer parte do dia-a-dia e da fé baiana. A intervenção contempla a restauração dos bens integrados, das imagens sacras, além da requalificação dos espaços internos e diversos outros serviços de conservação do monumento. Entre os destaques da intervenção estão a restauração das treze capelas, incluindo toda a imaginária sacra, a restauração do átrio, de toda a fachada principal em cantaria e das torres de azulejos.
A obra de restauração foi executada pelo Iphan, com o apoio da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, da Prefeitura Municipal de Salvador e do Governo do Estado da Bahia. Representantes de todas as instituições estarão presentes no evento de entrega da Basílica de Salvador, como a presidente do Iphan, Kátia Bogéa, o diretor do Departamento de Projetos Especiais do Iphan, Robson de Almeida, o superintendente do Iphan na Bahia, Bruno Tavares, o arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, e os ministros Sergio Sá Leitão, da Cultura; Vinicius Lummertz, do Turismo; e Ronaldo Fonseca, da Secretaria Geral da Presidência da República.
Os tesouros do Brasil Colonial
Diversas obras realizadas em todo o país sob a coordenação do Iphan têm revelado riquezas e preciosidades que estavam escondidas embaixo de camadas de tintas que, sem os devidos cuidados, eram feitas em reformas irregulares no decorrer dos séculos. A Catedral Basílica de Salvador é, certamente, um dos exemplos dos muitos tesouros que foram encontrados durante a realização das obras de restauração.
Debaixo do altar-mor, sob uma lápide de mármore, foi encontrada uma escadaria que levava a uma antiga catacumba. Já no interior de uma das capelas, ossadas foram descobertas, incluindo 13 crânios humanos. Também foram encontradas pinturas originais nas paredes e peças sacras, que revelaram quadros com imagens de santos jesuítas escurecidos pelo tempo e até purpurina nas áreas revestidas de ouro. Na capela do Santíssimo foram recuperados diversos elementos com folhas de prata, que estavam encobertas por camadas de repintura.
O próprio altar-mor é uma das preciosidades que prometem encantar fiéis e visitantes. Fechado por anos, devido a uma obra anterior inacabada, ele também será reaberto, completamente restaurado. Outros 30 bustos relicários das Virgens e Santos Mártires retornam à igreja, depois de mais de 15 anos sob a guarda do Museu de Arte Sacra, que agora os devolveu restaurados. Já os elementos dourados, utilizados em várias partes do templo, foram recuperados com folhas de ouro importadas de Florença, na Itália. A obra também permitiu que a Basílica de Salvador se renove, com a instalação de modernos equipamentos de sonorização, sistema de prevenção e combate a incêndio e segurança patrimonial. Todo esse trabalho foi realizado por uma equipe multidisciplinar, formada por mais de 120 profissionais, que mesclou a utilização de técnicas e materiais tradicionais e contemporâneos.
Um dos primeiros e mais importantes templos brasileiros
A Catedral Basílica de Salvador é considerada uma das igrejas mais importantes da Bahia. Monumento do século XVII, foi o quarto templo construído pelos jesuítas na capital baiana, entre 1652 e 1672, e é o último remanescente do conjunto arquitetônico do Colégio de Jesus. Com projeto arquitetônico do irmão Francisco Dias, possui 13 altares, sendo os dois primeiros construídos em estilo renascentista maneirista. A fachada é toda em pedras de lioz, importadas de Portugal, e os nichos sob as portas representam Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier e São Francisco de Borja. Com a saída dos jesuítas do país, a igreja foi abandonada e chegou a ser utilizada como hospital militar e a primeira Escola de Medicina do Brasil, instalada ali em 1833. Ainda em 1938, a igreja foi tombada individualmente pelo Iphan e a proteção inclui também todo o seu acervo.
A obra de restauração no local é parte de uma série de ações que vem sendo realizados no Patrimônio Cultural baiano, totalizando recursos de mais de R$ 92 milhões investidos pelo Iphan. Cinco importantes obras já foram concluídas em Salvador, com as restaurações da Igreja da Ordem Terceira de São Domingos, da Igreja do Santíssimo Sacramento da Rua do Passo, da Igreja do Corpo Santo, do Forte de São Marcelo e do edifício anexo ao Plano Inclinado Gonçalves, onde foi instalada a Casa do Carnaval. Também estão em execução outras oito obras, incluindo ações nas cidades de Santo Amaro, Itaparica e Maragogipe.
Foto de capa: Mateus Morbeck
Fonte: Arquidiocese de Salvador
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