Um homem de longas barbas, a quem chamavam Sumé, de aspecto venerável, a ensinar a doutrina cristã e como aproveitar os recursos da terra. Assim os índios da Baia de Todos os Santos relatavam para os colonos e missionários aqui chegados.

Seria verdade ou lenda?

Vejamos os documentos da época.

Em 1549 chegam à Bahia o Pe. Nóbrega e São José de Anchieta. Poucos dias depois em carta aos jesuítas de Lisboa (1) conta o Pe. Nóbrega ter ouvido dos índios referências a um homem que, além de pregar a doutrina católica, lhes ensinara a colher raízes comestíveis, como a mandioca.

Quem seria ele?

Misteriosas pegadas no rochedo

Afirma o Pe. Nóbrega em sua carta:

Pegadas de São Tomé – Paripe – Salvador – Bahia

“Dizem eles [os índios] que São Tomé, a quem chamam Sumé, passou por aqui. Isto lhes foi dito por seus antepassados. (…) E que suas pegadas estão marcadas [numa rocha à beira-mar] (2), as quais eu fui ver para ter mais certeza da verdade, e vi com os próprios olhos quatro pegadas muito assinaladas com seus dedos, as quais algumas vezes [a maré] cobre quando sobe. (…) Dizem também que lhes prometeu voltar outra vez.”

Escrevendo no mesmo ano ao Dr. Martin de Azpicueta, de Coimbra, diz: “E também [os índios] têm notícia de São Tomé, e há em uma rocha nesta Bahia umas pisadas que se têm por suas, e outras em São Vicente”.

Jesuítas promovem romarias

São José de Anchieta e Padre Nóbrega

Em carta de 1552, o Pe. Francisco Pires relata uma das frequentes peregrinações ao local das pegadas: “Disseram-nos [os índios] que morássemos ali [local chamado Paripe, a algumas léguas da cidade do Salvador] e que nós, que sabíamos, os ensinássemos e eles nos fariam uma casa nas pegadas do bem-aventurado Santo. Com eles partimos de manhã (…) Lá chegando era meia maré baixa, e vimos pegadas, que estão em pedra muito dura, (…) a pedra cedeu sob seus pés como se fosse barro”..

A opinião de um abalizado historiador

Escreve o conhecido historiador Rocha Pitta:

“A vinda do glorioso Apóstolo S. Tomé anunciando a doutrina católica, não só no Brasil, mas em toda a América, tem mais razões para se crer que para se duvidar; pois mandando Cristo Senhor Nosso aos seus sagrados Apóstolos pregar o Evangelho a todas as criaturas e por todo o mundo, não consta que algum dos outros viesse a esta região, tantos séculos habitada antes da nossa Redenção; (…) não se pode imaginar que faltasse a providência de Deus a estas criaturas.(…) De ser o Apóstolo S. Tomé o que no Mundo Novo pregou a doutrina evangélica, há provas grandes, como testemunho de muitos sinais em ambas as Américas”.(2)

(1) Cartas dos Primeiros Jesuítas do Brasil – I- (1538-1553) – Serafim Leite S.J. – São Paulo – 1954
(2) As palavras entre colchetes [ ] são precisões ao texto do Pe. Nobrega que julgava ser o local um rio, Na realidade é a Baia de Todos os Santos, portanto, Oceano Atlântico.
(3) (História da América Portuguesa, vol. XXX – W.M. Jackson Inc. Editores — 1970).
Textos completos publicados na Revista Arautos do Evangelho, nº 23, novembro de 2003, pp. 40-41, artigo “Piedosa lenda ou fato real?”, de Oscar Macoto Motitsuki.


Fonte: Arautos do Evangelho