São João Bosco nasceu no Colle dos Becchi, no Piemonte, Itália, uma localidade junto de Castelnuovo de Asti (agora chama-se Castelnuovo Dom Bosco) a 16 de agosto de 1815. Era filho de humilde família de camponeses. Órfão de pai aos dois anos, viveu sua mocidade e fez os primeiros estudos no meio de inumeráveis trabalhos e dificuldades. Desde os mais tenros anos sentiu-se impelido para o apostolado entre os companheiros. Sua mãe, que era analfabeta, mas rica de sabedoria cristã, com a palavra e com o exemplo animava-o no seu desejo de crescer virtuoso aos olhos de Deus e dos homens.
Mesmo diante de todas as dificuldades, João Bosco nunca desistiu. Durante um tempo foi obrigado a mendigar para manter os estudos. Prestou toda a espécie de serviços. Foi costureiro, sapateiro, ferreiro, carpinteiro e, ainda nos tempos livres, estudava música.
Queria vivamente ser sacerdote. Dizia: “Quando crescer quero ser sacerdote para tomar conta dos meninos. Os meninos são bons; se há meninos maus é porque não há quem cuide deles”. A Divina Providência atendeu os seus anseios. Em 1835 entrou para o seminário de Chieri.
Ordenado Sacerdote a 5 de junho de 1841, principiou logo a dar provas do seu zelo apostólico, sob a direção de São José Cafasso, seu confessor. No dia 8 de dezembro desse mesmo ano, iniciou o seu apostolado juvenil em Turim, catequizando um humilde rapaz de nome Bartolomeu Garelli. Começava assim a obra dos Oratórios Festivos, destinada, em tempos difíceis, a preservar da ignorância religiosa e da corrupção, especialmente os filhos do povo.
Em 1846 estabeleceu-se definitivamente em Valdocco, bairro de Turim, onde fundou o Oratório de São Francisco de Sales. Ao Oratório juntou uma escola profissional, depois um ginásio, um internato etc. Em 1855 deu o nome de Salesianos aos seus colaboradores. Em 1859 fundou com os seus jovens salesianos a Sociedade ou Congregação Salesiana.
Com a ajuda de Santa Maria Domingas Mazzarello, fundou em 1872 o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora para a educação da juventude feminina. Em 1875 enviou a primeira turma de seus missionários para a América do Sul.
Foi ele quem mandou os salesianos para fundar o Colégio Santa Rosa em Niterói, primeira casa salesiana do Brasil, e o Liceu Coração de Jesus em São Paulo. Criou ainda a Associação dos Cooperadores Salesianos. Prodígio da Providência divina, a Obra de Dom Bosco é toda ela um poema de fé e caridade. Consumido pelo trabalho, fechou o ciclo de sua vida terrena aos 72 anos de idade, a 31 de janeiro de 1888, deixando a Congregação Religiosa Salesiana espalhada por diversos países da Europa e da América.
Se em vida foi honrado e admirado, muito mais o foi depois da morte. O seu nome de taumaturgo, de renovador do Sistema Preventivo na educação da juventude, de defensor intrépido da Igreja Católica e de apóstolo da Virgem Auxiliadora se espalhou pelo mundo inteiro e ganhou o coração dos povos. Pio XI, que o conheceu e gozou da sua amizade, canonizou-o na Páscoa de 1934.
Apesar dos anos que separam os dias de hoje do tempo em que viveu Dom Bosco, seu amor pelos jovens, sua dedicação e sua herança pedagógica vêm sendo transmitidos por homens e mulheres no mundo inteiro. Hoje Dom Bosco se destaca na história como o grande santo Mestre e Pai da Juventude.
Embora tenha feito repercutir pelo mundo o seu carisma e o sistema preventivo de salesiano, que é baseado na Razão, na Religião e na Bondade, Dom Bosco permaneceu durante toda a sua vida em Turim, na Itália. Dedicou-se como ninguém pelo bem-estar de muitos jovens, na maioria órfãos, que vinham do campo para a cidade em busca de emprego e acabavam sendo explorados por empregadores interessados em mão-de-obra barata ou na rua passando fome e convivendo com o crime.
Com atitudes audaciosas, pontuadas por diversas inovações, Dom Bosco revolucionou no seu tempo o modelo de ser padre, sempre contando com o apoio e a proteção de Nossa Senhora Auxiliadora. Aliás, o sacerdote sempre considerou como essencial na educação dos jovens a devoção à Maria.
Dom Bosco ficou muito famoso pelas frases que usava com os meninos do oratório e com os padres e irmãs que o ajudavam. Embora tenham sido criadas no século passado, essas frases, ainda hoje, são atuais e ricas de sabedoria. Elas demonstram o imenso carinho que Dom Bosco tinha pelos jovens.
Entre alguns exemplos, “Basta que sejam jovens para que eu vos ame.”, “Prometi a Deus que até meu último suspiro seria para os jovens.”, “O que somos é presente de Deus; no que nos transformamos é o nosso presente a Ele”, “Ganhai o coração dos jovens por meio do amor”, “A música dos jovens se escuta com o coração, não com os ouvidos.”
O método de apostolado de Dom Bosco era o de partilhar em tudo a vida dos jovens; para isto no concreto abriu escolas de alfabetização, artesanato, casas de hospedagem, campos de diversão para os jovens com catequese e orientação profissional; foi por isso a Igreja reza: “Deus suscitou São João Bosco para dar à juventude um mestre e um pai”.
De estatura atlética, memória incomum, inclinado à música e a arte, Dom Bosco tinha uma linguagem fácil, espírito de liderança e ótimo escritor. Este grande apóstolo da juventude foi elevado para o céu em 31 de janeiro de 1888 na cidade de Turim; a causa foi o outros, já que afirmava ter sido colocado neste mundo para os outros.
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Educar não é só uma arte. Passou a ser um desafio, pois é cada vez mais difícil orientar a juventude num sentido contrário à mentalidade dominante. São João Bosco encontrou a chave que abre a alma
do jovem à influência do bem.
Manter a disciplina numa sala de aulas constituída de adolescentes é uma dificuldade que, com algumas variantes, mostra-se quase tão antiga como a civilização. Os mestres de Santo Agostinho poderiam dar um testemunho valioso a esse respeito. Em outros tempos, os métodos usados eram muito mais diretos que os atuais e davam resultados imediatos, proporcionais à energia e à força de personalidade do professor. Mas o problema de fundo não deixa de ser o mesmo, hoje como ontem.
A educação não se restringe a conseguir manter, dentro do recinto de uma sala de aulas, todos os alunos em ordem e silêncio, para que o professor possa transmitir com eficácia seus ensinamentos. O bom educador deve saber moldar a personalidade de seus discípulos, corrigindo os defeitos, estimulando as qualidades, fazendo-os amar os princípios que orientarão a vida. Numa boa educação, a formação religiosa ocupa lugar principal, pois sem amor de Deus e auxílio da graça ninguém consegue vencer as más inclinações e praticar estavelmente a virtude.
Da teoria à prática…
Na teoria, tudo isso é muito fácil…
Mas, como pô-la em prática no mundo de hoje, no qual são tão numerosas e atraentes as solicitações para o mal e os educadores sentem crescente dificuldade de exercer influência sobre os jovens? O problema já era candente na época de São João Bosco. A sociedade de então passava por grandes transformações, sobretudo de mentalidade. E a juventude, sempre ávida de novidades, afastava-se da religião e perdia o rumo.
Dom Bosco fazia o “milagre” – muito maior do que todos os outros por ele realizados – de atrair e formar jovens que já não se deixavam moldar pelos antigos métodos educacionais e se subtraíam à ação da Igreja.
Tentativas de penetrar o segredo do método preventivo
Eram tão surpreendentes os resultados obtidos pelo fundador dos salesianos que muitos de seus coetâneos procuravam insistentemente arrancar dele o “segredo” de seu êxito.
Essa mesma intenção teve o reitor do seminário maior de Montpellier, quando enviou uma carta a Dom Bosco, perguntando qual o segredo da pedagogia utilizada por ele. Imagine-se sua surpresa ao receber a seguinte resposta: “Consigo de meus meninos tudo o que desejo, graças ao temor de Deus infundido em seus corações”.
Não satisfeito, o reitor enviou uma segunda carta, mas a esta o Santo não soube responder, pois nunca havia feito um estudo sobre a matéria. O livro do qual ele tirava seus ensinamentos era sua própria vida.
Confiança: o instrumento do bom educador
Discorrendo sobre o mesmo assunto com o cardeal Tosti, em Roma, numa manhã de 1858, disse-lhe São João Bosco: “Veja, Eminência, é impossível educar bem a juventude se não se lhe conquista a confiança”. Em seguida, para dar-lhe um exemplo concreto, ele o convidou a acompanhá-lo à Praça del Popolo, onde facilmente encontrariam grupos de jovens brincando, e poderia demonstrar a eficácia de seu método. Mas quando desceu da carruagem, a turma de meninos que brincava na praça fugiu correndo. Certamente julgaram que esse padre lhes ia fazer um pequeno sermão ou repreendê- los por alguma falta. O cardeal ficara dentro do veículo, assistindo à cena, e se divertia, julgando que aquele primeiro fracasso levaria Dom Bosco a desistir da experiência.
Mas este não se deixou abater e, em poucos minutos, com sua vivacidade e irresistível bondade, tinha uma pequena multidão de jovenzinhos à sua volta se divertindo com seus jogos e entusiasmados com sua bondade.
Chegado o momento de se retirar, eles formaram duas fileiras diante do coche, para aclamar o sorridente sacerdote enquanto este passava. O cardeal tinha dificuldade em acreditar no que estava vendo…
Evitar o pecado: a essência do método preventivo
Afinal, como fazia São João Bosco para cativar a juventude? Como primeiro objetivo, pretendia ele evitar todo e qualquer tipo de pecado, usando de grande vigilância, acompanhada de amorosa solicitude.
Não de um modo esmagador e glacial, mas paternal e afetuoso. A essa tática de conduzir os jovens o santo educador deu o nome de “método preventivo”, em confronto com o outro então em voga, denominado “repressivo”, o qual tinha por base os castigos.
Esse modelar formador da juventude não perdia ocasião de coarctar o avanço do mal. Mesmo nos recreios, seu olhar atento logo conseguia descobrir onde estava a rixa ou de onde provinham palavras reprováveis e, sem demora, desfazia a confusão com hábil jovialidade, pois ele era a alma dos divertimentos, como seus alunos testemunhavam. Não raras vezes, ele desafiava todos os meninos, de uma só vez, para uma corrida.
Então erguia a batina, contava até três e deixava aquela turba de jovens para trás: Dom Bosco sempre chegava em primeiro lugar. Quando já tinha 53 anos, ele ainda deixava os espectadores estupefatos com sua agilidade, pois nunca perdia uma corrida com os alunos do Oratório.
Suavidade na repreensão
São João Bosco jamais dava castigos corporais, na convicção de que isso só incitaria os corações à revolta e fecharia a alma do jovem para os conselhos salutares. A maneira pela qual ele repreendia era através de uma palavra fria, um olhar triste, uma mão retraída, ou qualquer outro sinal discreto de desagrado com alguma falta. Mas os resultados demonstravam ser extremamente eficaz essa forma de correção.
Certa noite, logo após as orações, Dom Bosco queria dirigir aos meninos algumas palavras benfazejas, antes de irem dormir, mas tal era a algazarra que ele não conseguiu obter silêncio. Após alguns minutos de espera, comunicou- lhes: “Não estou contente com vocês! Vão dormir. Esta noite não lhes digo nada”.
A partir desse dia nunca mais foi necessário usar uma sineta para que os rapazes fizessem silêncio. Poderia, porém, surgir uma dúvida a respeito de tal método. Essa vigilância para evitar o pecado não acabaria por tirar a liberdade ao jovem? A natureza humana é feita para o equilíbrio: não sufocar a liberdade nem, muito menos, permitir uma indisciplina desenfreada. Essa conjunção, São João Bosco soube fazê-la admiravelmente.
Apesar de toda a vivacidade e afeto no trato com os jovens, estes sempre mantinham uma atitude de respeito e admiração para com seu mestre.
Alegria, tempero indispensável
O ambiente no refeitório do Oratório era uma comprovação desse relacionamento harmonioso, quando Dom Bosco demorava algum tempo mais para terminar sua refeição, à qual tinha chegado atrasado. Assim que os outros superiores saíam, uma multidão de jovens entrava correndo e ocupava todo o recinto, não deixando espaço vazio. Alguns se aproximavam tanto que quase encostavam suas cabeças nos ombros dele, outros se apoiavam no espaldar de sua cadeira e os mais pequeninos se enfiavam debaixo da mesa. Qual não era a surpresa comovida do Santo ao ver aquelas pequenas cabecinhas dali saírem, com o único fim de estarem mais perto de seu pai. A liberdade com que aqueles jovenzinhos dele se aproximavam e a veneração que lhe devotavam constituíam realmente um quadro comovedor.
Uma ocasião como essa era uma excelente oportunidade de fazer o bem. O zeloso sacerdote aproveitava então para contar uma história, dar um bom conselho, fazer perguntas, até que o sino indicasse a hora da oração da noite, ou seja, o fim desse convívio enternecido.
Como se vê, a alegria ocupava um grande papel no método educativo de Dom Bosco. Com ela, pretendia o Santo tornar a vida leve e criar disposições para os meninos abrirem a alma à influência dele e ao sobrenatural.
Um dos meios que utilizava eram os jogos e diversões, dos quais o próprio educador participava. Num desses divertimentos, ele alinhava todos os meninos em uma única fila e lhes recomendava: “Atenção! Façam tudo como eu fizer. Quem não fizer como eu faço, sai da brincadeira”.
Isso dito, começava seu percurso, ora correndo com os braços para o ar, ora fazendo gestos espetaculares, batia palmas, pulava com uma só perna, ameaçava parar numa árvore, mas logo depois saía correndo de novo. Desse modo, entretinha e criava um ambiente de alegria para aqueles jovens.
Com tais recursos e, sobretudo, com a graça divina, São João Bosco conseguia levá-los a amar a Deus com alegria. Para esse efeito, a música era um instrumento valioso, a ponto de ele dizer que uma casa sem música é como um corpo sem alma.
Frequência aos sacramentos e devoção a Nossa Senhora
A perseverança só é possível pela frequência aos sacramentos e uma ardente devoção a Nossa Senhora.
Na confissão, Dom Bosco pacificava as consciências, infundia confiança nas almas, conduzia seus juvenis penitentes a Deus. Bela descrição dessas confissões nos faz Huysmans, escritor católico do séc. XIX: “Nosso Santo, trazendo no semblante a bonomia de um velho vigário do interior, puxava para perto de si o menino que tinha terminado o exame de consciência e, tomando-o pelo pescoço, envolvia-o com o braço esquerdo e fazia o pequeno penitente apoiar a cabeça no seu coração. Não era mais o juiz. Era o pai que ajudava os filhos, na confissão tantas vezes penosa das faltas mais pequeninas.” Por meio da comunhão frequente queria São João Bosco fortificar a alma dos jovens contra as investidas infernais.
Para ele, a Primeira Comunhão deveria ser feita o mais cedo possível: “Quando um menino sabe distinguir entre o pão comum e o Pão Eucarístico, quando se acha suficientemente instruído, não é preciso olhar para a idade. Venha logo o Rei do Céu reinar nessa alma”.
Seguindo os sábios conselhos maternos, Dom Bosco fez da devoção a Maria Santíssima, sob a bela invocação de Maria Auxiliadora, uma coluna da espiritualidade dos salesianos. “Se chegares a ser padre – repetia-lhe afetuosamente ‘mamma Margherita’ – propaga sem cessar a devoção a Nossa Senhora”.
Método preventivo e graça divina
Na realidade, o método preventivo de Dom Bosco é uma forma adaptada às novas gerações – e plenamente atual – de predispor os jovens para serem flexíveis à ação da graça divina.
É ela a verdadeira causa do êxito surpreendente desse grande educador que marcou sua época, até nossos dias, com seu inovador método transmitido a seus seguidores, os sacerdotes salesianos e as filhas de Maria Auxiliadora.
Fontes: Revista Arautos do Evangelho, Jan/2007, n. 61, p. 22 à 25
Site da Paróquia Salesiana Nossa Senhora Auxiliadora: http://www.auxiliadora.org.br/
Arautos do Evangelho
TV Arautos
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