São Francisco de Assis é dos Santos mais conhecidos e venerados na Igreja, e a justo título. Há um aspecto que, de tão óbvio, não é comentado: é ele o Fundador de uma das maiores famílias religiosas da história da Igreja, os franciscanos.

Qual o papel de um Fundador numa ordem religiosa? Por que a Igreja tem em tão alta consideração a missão dada por Deus aos Fundadores?

O trecho de um substancioso artigo publicado a seguir responde a estas e outras perguntas.

 

O ESPÍRITO SANTO SUSCITA OS FUNDADORES

Diácono Thiago de Oliveira Geraldo

Uma vez que Nosso Senhor subiu aos Céus e cessou sua presença física entre nós, como faz a Providência para atender o legítimo e indispensável anseio de convívio com o Redentor?

A resposta nos é dada pelo Pe. Fabio Ciardi, sacerdote dos Oblatos de Maria Imaculada especialista em vida religiosa e novos carismas:“Por ser somente Cristo a resposta suprema para o homem e para todas as suas necessidades, o Espírito Santo atende na Igreja às diversas necessidades do homem, tal como elas se manifestam ao longo dos séculos, suscitando os fundadores e fazendo deles outros Cristos”.(1)

Santo Inácio de Loyola, Fundador dos Jesuítas

Por isso, conclui um célebre historiador religioso contemporâneo, “podemos dizer que a Igreja é como um majestoso Cristo, explicado, através dos séculos, por meio de diferentes formas de vida religiosa, em cada uma das quais se constata claramente um traço ou um aspecto da vida, do ensinamento e da pessoa de Jesus”.(2)

IMAGEM VISÍVEL DE CRISTO PARA SEUS SEGUIDORES

O exemplo dos fundadores atrai discípulos para uma via de perfeição específica. A família de almas que os segue se sente identificada com eles por representarem um ou mais dos infinitos aspectos do Divino Salvador que ainda não brilharam suficientemente na História. “Deus, através dos fundadores, quer abrir para sua Igreja uma nova forma de seguir a Jesus Cristo”, esclarece o Pe. Ciardi. (3) E acrescenta: “Em virtude de seu próprio carisma, o fundador é chamado a inaugurar uma nova via de santidade, a refletir uma faceta do mistério insondável de Cristo e assim conduzir outros a uma plena entrega de si mesmos a Deus”.(4)

São João Bosco, Fundador dos Salesianos

Sem jamais ofuscar a paternidade divina, infinitamente superior à de qualquer ser humano, os fundadores escolhidos pelo próprio Deus devem ser uma imagem visível de Cristo para os seus imitadores. Explica Jean-François Gilmont na Revue d’Ascétique et de Mystique que, por ordem divina, o fundador é investido para engendrar o discípulo na sua nova vida. Seu exemplo e ensinamento oferecem-lhe uma como que imagem de Cristo. “O religioso entra numa milícia em que o chefe, do alto do Céu, o guia de uma maneira especial na luta que opõe Cristo a satanás. Essa mediação, longe de prejudicar a mediação única de Cristo, e essa paternidade, longe de obscurecer a paternidade única divina, constituem pelo contrário um louvor e uma exaltação do Deus Salvador”. (5)


Fonte: Arautos do Evangelho Curitiba

(1) CIARDI, OMI, Fabio. Los fundadores: hombres del Espíritu. Madrid: Paulinas, 1983, p.245.(2) ÁLVAREZ GÓMEZ, Jesús. La vida religiosa como respuesta a las necesidades de la Iglesia y del mundo. In: Vida Religiosa. Madrid. Vol. L. N.6 (Nov., 1981); p.453.
(3) CIARDI, op. cit, p.125.
(4) Idem, p.199.
(5) GILMONT, Jean-François. Paternité et médiation du fondateur d’ordre. In: Revue d’Ascétique et de Mystique. Toulouse. Vol. XL. N.160 (1964); p.425.
(Trechos do artigo “Pai por vontade do Espírito”, de autoria do Diácono Thiago de Oliveira Geraldo, publicado na revista Arautos do Evangelho, nº 188, agosto de 2017, p. 16-21. Para acessar a revista Arautos do Evangelho do corrente mês clique aqui ) .