Lísias, regente da Síria e tutor do filho de Antíoco Epífanes enquanto este tentava invadir a Pérsia, recrutou 80.000 militares escolhidos para subjugar os judeus, visando também, entre outros objetivos, “pôr à venda anualmente o cargo de sumo sacerdote” (II Mc 11, 3).

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Como leões, irromperam sobre os inimigos

Partiu ele em direção à Judeia, confiando na multidão de seus soldados e cavaleiros, bem como “nos seus 80 elefantes” (II Mc 11, 4).

Quando os homens de Macabeu viram esse imenso exército, o qual já se encontrava a uns 30 quilômetros de Jerusalém, pediram a Deus que “enviasse um Anjo bom para salvar Israel” (II 11, 6).

Judas Macabeu, com apenas 10.000 homens, exortou-os a segui-lo em direção aos inimigos, e pôs-se a orar a Deus. Em sua bela prece, recordou a vitória de Davi contra Golias, de Jônatas, filho de Saul, que dominou o acampamento dos filisteus, e acrescentou: “Entrega, pois, este exército nas mãos de Israel, o teu povo, e que eles, com seus soldados e cavaleiros, fiquem envergonhados. Amedronta-os, e quebra a audácia da sua força, para que sejam abalados pela sua derrota. Derruba-os pela espada dos que Te amam, para que Te louvem, com hinos, todos os que conhecem o teu Nome” (I Mc 4, 31-33).

“E todos, unidos e cheios de ardor, puseram-se em marcha. De repente, quando ainda se encontravam perto de Jerusalém, apareceu à sua frente um cavaleiro revestido de branco, e empunhando armas de ouro.

“Todos, então, unânimes, bendisseram ao Deus misericordioso. E ficaram tão animados que se sentiram capazes de enfrentar não só homens, mas até as feras mais selvagens e mesmo muralhas de ferro.

“E puseram-se a avançar, em ordem de batalha, tendo consigo esse aliado vindo do Céu […] Como leões, irromperam sobre os inimigos”, matando 12.600 deles; os outros puseram-se em fuga feridos e sem armas. “O próprio Lísias escapou fugindo, de maneira vergonhosa” (II Mc 11, 7-12).

Estandartes de Judas Macabeu

Recordemos que essa foi a quarta vez que Anjos apareceram para protegerem os bons, na época dos macabeus. A primeira ocorreu quando Heliodoro quis invadir o Templo de Jerusalém: três Anjos se lançaram contra ele, um a cavalo e dois com chicotes, deixando-o semimorto (cf. II Mc 3, 25-27).

A segunda se deu nos céus de Jerusalém: durante 40 dias, esquadrões de Anjos vestidos de trajes dourados, com couraças, escudos, lanças e espadas, aparecem em formação cerrada (cf. II Mc 5, 2-4).

A terceira sucedeu no auge de uma batalha: cinco Anjos, montados em cavalos com rédeas de ouro, postaram-se na frente dos israelitas; dois deles ficaram junto a Judas Macabeu, um de cada lado. E os espíritos celestes lançavam dardos e raios contra os inimigos, que fugiram apavorados (cf. II Mc 10, 29-31).

Judas Macabeu “tinha escrito sobre seus estandartes as letras iniciais MACH, de quatro palavras hebraicas que significam: Extermínio dos inimigos de Deus”.

Purificação do Templo

Após essa vitória, Judas retomou Jerusalém, exceto a cidadela que continuou sendo ocupada pelos sírios durante 23 anos, até a época de Simão Macabeu (cf. I Mc 13, 52; 14, 36). E ordenou que o Templo fosse purificado e depois dedicado, ou seja, consagrado solenemente a Deus. O altar havia sido profanado, as portas incendiadas, os aposentos dos sacerdotes destruídos. O mato crescia nos átrios, pois essa situação desoladora já durava quatro anos.

Presenciando essa cena dolorosa, os judeus se prosternaram e começaram a clamar ao Céu, ao som das trombetas de prata (cf. I Mc 4, 40 e Nm 10, 2).

Judas escolheu alguns sacerdotes fiéis para purificar a Casa de Deus; compreende-se tal seleção, pois muitos sacerdotes tinham aderido vergonhosamente ao helenismo (cf. II Mc 4, 14-15). Demoliram o altar dos holocaustos e construíram um novo, sobre o qual ofereceram sacrifícios. (II Mc 10, 3), em meio de comemoração jubilosa. Através da fricção de pedras, foi obtido o fogo (cf. II Mc 10, 3), o qual havia sido extinto desde o início da perseguição de Antíoco Epífanes. “Os judeus não quiseram levar para o altar um fogo ordinário e vulgar.”

Ficou estabelecido que a festa da dedicação do altar seria anualmente celebrada durante oito dias. Essa festa ainda se celebrava no tempo de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Jo 10, 22).

E, sob as ordens de Judas Macabeu, os judeus fortificaram o Monte Sião — sobre o qual estava construído o Templo — com muralhas altas e torres vigorosas ao seu redor. E ali foi instalada uma guarnição para defendê-lo (cf. I Mc 4, 60-61).

Campanhas de Judas Macabeu contra os povos vizinhos da Judeia

A restauração e a dedicação do Templo de Jerusalém foram atos que glorificaram a Deus, mas causaram indignação nos povos vizinhos de Israel. Por exemplo, os idumeus, descendentes Esaú, encheram-se de ódio aos judeus e os atacaram. E o heroico Judas Macabeu os enfrentou e lhes infringiu fragorosa derrota.

Outros povos pagãos vizinhos da Judeia se insurgiram contra os israelitas, ocasionando novos conflitos sangrentos. Num desses enfrentamentos, os inimigos, ao saber que Judas Macabeu se aproximava para atacá-los, fugiram espavoridos, e “cerca de 8.000 homens caíram mortos” (I Mc 5, 34).

Judas atacou também uma cidade, defendida com trincheiras, cercada por muralhas, habitada por pagãos que provocavam os israelitas com maldições, blasfêmias e palavrões. Os do exército do Macabeu, invocando a Deus, tomaram a cidade e eliminaram tantos inimigos que “um lago vizinho, com quase 400 metros de largura, parecia transbordar, repleto de sangue” (II Mc 12, 16). 

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 116)


Fonte:
Conteúdo publicado em gaudiumpress.org, no link http://www.gaudiumpress.org/content/88166#ixzz4lDlWDyCh 

1 – CAULY, Eugène Ernest. Cours d’instruction religieuse – Histoire de la Religion et de l’Église.4. ed. Paris: Poussielgue. 1894, p. 158.

2 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – Le premier Livre des Machabées. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 678. 
3 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – Le second Livre des Machabées. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 854