Dirigindo-Se não apenas aos seus discípulos, mas a todo o povo que se encontrava junto a Ele na Montanha, disse Nosso Senhor: “Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48).

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A ambição mais bela e mais nobre

Tais palavras constituem um preceito e não apenas um conselho. O preceito é uma ordem que deve ser cumprida por todos os homens. Enquanto que o conselho se aplica àqueles que são chamados a uma vocação especial; por exemplo, o sacerdote faz os votos de obediência, celibato e pobreza, chamados “conselhos evangélicos”.

A perfeição que toda e qualquer pessoa deve buscar é a santidade. Diz o Levítico: “Sede santos porque Eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv 19, 2). E quem despreza essa ordem divina, peca.

Sobre esse tema tão sublime, escreve Plinio Corrêa de Oliveira:

“Por sua natureza, a criatura humana é dotada de possibilidades e valores os quais deve procurar cultivar e aperfeiçoar, caso deseje se realizar por inteiro. Nessa busca, ela não pode ter ambição mais bela e mais nobre diante de si, do que a de ser santa.

“Enganar-se-ia quem pensasse ser o ideal da santidade exclusivo dos expoentes da humanidade que um dia chegam à glória dos altares. Não. Pela ação da graça divina, todos podemos ser cortesãos do Rei dos reis no Céu, desfrutando de uma felicidade sem jaça, imorredoura, pelos séculos sem fim.

“Todos fomos feitos para essa imensa, criteriosa, sábia, mas ousada aventura, na qual ordenamos nossa alma para Deus, a purificamos e embelezamos, dispondo-a à bem-aventurança eterna, à corte celestial onde um assento nos está reservado.”

“Combati o bom combate”

A santidade consiste em praticar em grau heroico as virtudes teologias – Fé, Esperança, Caridade -, e as cardeais – Temperança, Prudência, Justiça e Fortaleza.

“Os dez Mandamentos são as virtudes teologais e cardeais aplicadas a cada ramo concreto da ação humana, que constituem o nosso edifício moral e espiritual.”

Para trilhar o caminho que conduz à santidade é necessário o espírito de luta contra nossos principais inimigos: nós mesmos, as más doutrinas e tendências que campeiam por toda parte e o demônio.

São Paulo exprime belamente essa combatividade, apresentando-nos a figura de um guerreiro. Diz ele:

“Protegei-vos com a armadura de Deus, a fim de que possais resistir no dia mau […] Ficai, pois, de prontidão, tendo a verdade como cinturão, a justiça como couraça e os pés calçados com o zelo em anunciar a Boa Nova […] Em todas as circunstâncias, empunhai o escudo da Fé, com o qual podereis apagar todas as flechas incendiadas do maligno. Enfim, ponde o capacete da salvação e empunhai a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Ef 6, 13-17).

O Apóstolo, percebendo que se aproximava a hora de seu martírio, escreveu a seu discípulo Timóteo: “Combati o bom combate” (II Tm 4, 7), palavras que em latim têm um sabor especial: bonum certamen certavi.

Essa luta é constante e demos visar sempre o mais perfeito em tudo, conforme nos recomenda o Apocalipse: “Que o justo continue praticando a justiça e o santo santifique-se ainda mais” (Ap 22, 11).

O papel da graça

Entretanto, para se conseguir isso é absolutamente necessária a graça divina. Faltando a graça o homem nada pode fazer de bom, como disse o Divino Mestre: “Sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5). Note-se a radicalidade da afirmação: não é “pouco”, mas “nada”.

A graça santificante “é um dom divino, uma qualidade sobrenatural infundida por Deus em nossa alma, que nos dá uma participação física e formal da própria natureza divina, tornando-nos semelhante a Ele”.

Afirma Plinio Corrêa de Oliveira: “O papel da graça consiste exatamente em iluminar a inteligência, em robustecer a vontade e em temperar a sensibilidade de maneira que se voltem para o bem.”

Ensina São Tomás de Aquino: “O bem da graça de um só indivíduo supera o bem natural de todo o universo.”

A menor das graças tem o poder de apagar os maiores pecados, como declara Scheeben: Suponhamos que um homem haja praticado “todos os pecados e todos os horrores que, desde o fratricídio de Caim até a sublevação do Anticristo no fim do mundo, se pôde cometer; pois bem, todas essas faltas se purificariam, apenas penetrasse na alma deste homem um tênue filete da graça santificante; desapareceriam todas como por encanto, porquanto basta o menor grau de graça para vencer a maior malícia”.

Todos os homens foram feitos para o heroísmo

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Para obter, conservar e aumentar a graça é preciso rezar, esforçar-se na prática da virtude, evitar as ocasiões próximas de pecado e frequentar os Sacramentos.

“Mais que em outras épocas históricas, vivemos cercados de perigos que ameaçam nossa perseverança. Para resistir a todas essas solicitações do demônio, do mundo e da carne, é indispensável alimentar um grande desejo de alcançar o heroísmo da perfeição.

“No Céu nos está reservado um lugar que poderemos ocupar com mais ou menos brilho, dependendo da fidelidade com que busquemos ser ‘perfeitos como o nosso Pai celeste é perfeito’.

“A conhecida máxima de Paul Claudel, ‘a juventude não foi feita para o prazer, mas sim para o heroísmo’ , na realidade está incompleta, pois o heroísmo em matéria de virtude não é uma obrigação exclusiva dos jovens, mas de todos os homens, sem exceção.”

Por Paulo Francisco Martos

CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Um chamado para todos. In Dr. Plinio, São Paulo. Ano VII, n. 80 (novembro 2004), p. 4.
Idem. A perfeição no homem, nas nações. In Dr. Plinio, ano VII, n. 73 (abril 2004), p. 13.
MARÍN, Antonio Royo. Somos hijos de Dios – misterio de la divina gracia. Madri: BAC. 1977, p. 12.
Revolução e Contra-Revolução. 5. ed. São Paulo: Retornarei. 2002. p. 131.
Suma Teológica I-II, q. 113, a. 9, ad 2.
SCHEEBEN, Mathias Joseph. As maravilhas da graça divina . Petrópolis: Vozes, 1952, p. 157.
CLAUDEL, Paul; RIVIÈRE, Jacques. Correspondance. 1907-1914. Paris: Plon, Nourrit et Cie, 1926, p.23.
CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. II, p. 98


Fonte: Conteúdo publicado em gaudiumpress.org