Em 11 de agosto de 1264, o Papa Urbano IV emitia a bula Transiturus de Hoc Mundo, pela qual determinava a solene celebração da festa de Corpus Christi em toda a Igreja.

Diz o pontífice no texto da bula:

Que seria a Igreja sem a Eucaristia? Seria um museu dotado de coisas antigas e preciosas, mas sem vida (…) Por isso Jesus Cristo na Eucaristia é o coração da Igreja (D. Antonio Marto, Bispo de Leiria-Fátima)

Ainda que renovemos todos os dias na Missa a memória da instituição desse Sacramento, estimamos todavia, conveniente que seja celebrada mais solenemente pelo menos uma vez ao ano para confundir particularmente os hereges; pois, na Quinta-feira Santa a Igreja ocupa-se com a reconciliação dos penitentes, a consagração do santo crisma, o lava-pés e muitas outras funções que lhe impedem de voltar-se plenamente à veneração desse mistério.”

A partir desse momento, a devoção eucarística desabrochou com maior vigor entre os fiéis: os hinos e antífonas compostos por São Tomás de Aquino para a ocasião – entre os quais o Lauda Sion, (ver abaixo) verdadeiro compêndio da teologia do Santíssimo Sacramento, chamado por alguns o credo da Eucaristia – passaram a ocupar lugar de destaque dentro do tesouro litúrgico da Igreja.

(Clique no player abaixo e ouça um comentário de Monsenhor João Clá Dias, EP sobre o Lauda Sion)
 
(Clique no player abaixo e ouça o cântico do Lauda Sion completo)

 

Nossa Senhora e a Eucaristia

(São João Paulo II. Ecclesia de Eucharistia,17/4/2003, n.53-54)

Se quisermos redescobrir em toda a sua riqueza a relação íntima entre a Igreja e a Eucaristia, não podemos esquecer Maria, Mãe e modelo da Igreja. Na Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariæ, depois de indicar Maria como Mestra na contemplação do rosto de Cristo, inseri também entre os mistérios da luz a instituição da Eucaristia. Com efeito, Maria pode guiar-nos para o Santíssimo Sacramento porque tem uma profunda ligação com ele.

À primeira vista, o Evangelho nada diz a tal respeito. A narração da instituição, na noite de Quinta-Feira Santa, não fala de Maria. Mas sabe-se que Ela estava presente no meio dos Apóstolos, quando, “unidos pelo mesmo sentimento, se entregavam assiduamente à oração” (At 1, 14), na primeira comunidade que se reuniu depois da Ascensão à espera do Pentecostes. E não podia certamente deixar de estar presente, nas celebrações eucarísticas, no meio dos fiéis da primeira geração cristã, que eram assíduos à “fração do pão” (At 2, 42).

Para além da sua participação no banquete eucarístico, pode-se delinear a relação de Maria com a Eucaristia indiretamente a partir da sua atitude interior. A Santíssima Virgem é a Senhora “eucarística” na totalidade da sua vida. A Igreja, vendo em Maria o seu modelo, é chamada a imitá-La também na sua relação com este mistério santíssimo.

“A Santa Missa é o presente mais precioso e mais agradável que podemos oferecer à Santíssima Trindade; vale mais que o céu e a terra; vale o próprio Deus” (São João Batista Vianney)

Mysterium fidei! Se a Eucaristia é um mistério de fé que excede tanto a nossa inteligência que nos obriga ao mais puro abandono à palavra de Deus, ninguém melhor do que Maria pode servir-nos de apoio e guia nesta atitude de abandono.

Todas as vezes que repetimos o gesto de Cristo na Última Ceia dando cumprimento ao seu mandato: “Fazei isto em memória de Mim”, ao mesmo tempo acolhemos o convite que Nossa Senhora nos faz para obedecermos a seu Filho sem hesitação: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). Com a solicitude materna manifestada nas bodas de Caná, Ela parece dizer-nos: “Não hesiteis, confiai na palavra do meu Filho.

Se Ele pôde mudar a água em vinho, também é capaz de fazer do pão e do vinho o seu corpo e sangue, entregando aos crentes, neste mistério, o memorial vivo da sua Páscoa e tornando-se assim ‘pão de vida’”.

“Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, Eu com ele e ele comigo” (Ap 3, 20)


Fonte: Apostolado do Oratório