Ir. Carmela Werner Ferreira, EP
  Revista Arautos do Evangelho · Julho 2017
 

Escolhido para proclamar a Boa-Nova entre os gentios, o Apóstolo Paulo foi preparado de maneira direta pela Providência para o cumprimento de uma alta missão. À sua adesão incondicional a Cristo com a graça da conversão seguiu-se um período de intenso convívio com Ele, que se estendeu por três anos (cf. Gal 1, 17), ao longo dos quais assimilou com vantagem sobre os outros Doze os ensinamentos, o espírito e a doutrina de Nosso Senhor, para depois operar obras maiores que as deles (cf. I Cor 15, 10).

Esta eleição gratuita fez de São Paulo um varão apto ao bom combate, constituído em autoridade para pregar por todo o mundo. A presença ativa do Apóstolo na comunidade eclesial não o dispensou de um importante gesto de submissão, a obediência a Pedro, chefe da Santa Igreja: “Três anos depois subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e fiquei com ele quinze dias” (Gal 1, 18).   

E assim o Apóstolo, cuja conduta ainda hoje inspira os homens justos, tornou-se um paradigma para aqueles que recebem algum carisma do Espírito Santo e devem unir-se à autoridade legítima, a qual é constituída e sustentada pelo próprio Deus (cf. Rm 13, 1).

 “Sede mensageiros do Evangelho”

 Com os Arautos do Evangelho o percurso teve início em 1998, quando Mons. João Scognamiglio Clá Dias recebeu aprovação diocesana para sua nascente obra, concedida por Dom Emílio Pignoli, então Bispo de Campo Limpo, na Grande São Paulo. Diante da necessidade de acolher as diversas casas de Arautos sob uma mesma realidade jurídica, a Santa Sé decidiu erigi-los em Associação Internacional de Fiéis de Direito Pontifício em data muito simbólica: 22 de fevereiro de 2001, festa da Cátedra de Pedro.

Na manhã do dia 28 do mesmo mês, São João Paulo II os acolheu com palavras que ainda hoje permanecem vivas na memória e no coração de quantos tiveram a alegria de ouvi-lo: “Sede mensageiros do Evangelho pela intercessão do Coração Imaculado de Maria”.

O sacerdote orionita Giovanni D’Ercole, à época capo ufficio da Secretaria de Estado e hoje Bispo de Ascoli Picceno, percorreu diversos países para conhecer e acompanhar de perto o desenvolvimento dos Arautos.

 Atenta análise de Dom Giovanni D’Ercole

 Retornando a Roma, transmitiu em seguida as observações ao fundador: “Escrevo-lhe estas linhas para lhe confiar mais alguns comentários sobre minha visita às casas dos Arautos do Evangelho nas três Américas. A perspectiva trazida pelo transcorrer dos dias vem me dando a chance de melhor avaliar alguns pontos, que tenho procurado aprofundar. Era um dos objetivos de minha viagem analisar bem de perto as diversas  realidades dos Arautos do Evangelho, a fim de, se necessário fosse, dar-lhes conselhos e orientações. Por isso, apliquei minha atenção em tudo com particular empenho. […]

“Já tive oportunidade de lhe dizer em São Paulo que fiz diversas observações e procurei aconselhar a respeito de alguns assuntos, deixando uns poucos pontos para estudar melhor no futuro. […] Quero deixar também registrado que encontrei no senhor, e em geral em todos os encarregados com os quais conversei, aí e nos outros países, uma ótima disposição para aceitar minhas ponderações. Além disso, pude comprovar a vitalidade e força de expansão dessa obra a qual, em tão pouco tempo, vai se estendendo célere pelo mundo inteiro. Queira Deus que ela continue a trilhar esse caminho, e se multiplique a ponto de atingir todos os rincões do globo. […]

“Agradou-me observar, durante os dias em que estivemos juntos, a modéstia com a qual o senhor age em tudo, nunca procurando chamar a atenção sobre si mesmo. E isto me fez concluir ser esta uma das fontes das quais nascem as orientações prudentes e sapienciais para os Arautos do Evangelho no mundo inteiro”.

 No sulco fecundo e bimilenar da Cidade Eterna

 Com o tempo essas impressões não só se confirmaram, como também levaram as autoridades a adotar posturas concretas de reconhecimento do carisma, como por exemplo a concessão de uma histórica igreja do vicariato romano: San Benedetto in Piscinula. Sobre esse significativo gesto, Mons. Adriano Paccanelli, Cerimoniário da Basílica de Santa Maria Maior, adjunto de primeira classe da Secretaria de Estado, comenta: “Pela primeira vez, a Igreja de Roma, Diocese do Santo Padre, confia um lugar sagrado e a atividade pastoral aí desenvolvida a uma associação privada de leigos. […] Por um desígnio da Divina Providência, iluminados pela presença materna de Maria Santíssima, os Arautos do Evangelho fazem agora parte integrante da vida e da história da Igreja de Roma, inserindo-se no sulco fecundo do bimilenário caminho da Igreja Católica que, na Cidade Eterna, Sede do Sucessor do Apóstolo Pedro, encontra seu centro de unidade e de irradiação da fé”.

 

O texto do acordo assinado pelo Cardeal Camillo Ruini, à época Vigário-Geral de Sua Santidade para a Diocese de Roma, reflete bem esse vínculo de confiança: “A presença da Associação em San Benedetto in Piscinula constitui um enriquecimento à Diocese de Roma. Portanto, o Ordinário dispõe que a Igreja de San Benedetto in Piscinula seja pastoralmente ligada às atividades da Associação Arautos do Evangelho, cujos membros exprimem a própria identidade cristã com o testemunho de vida, com atenção posta especialmente no apostolado, e vivendo a própria consagração batismal, por meio de Maria, segundo a espiritualidade de São Luís Maria Grignion de Montfort”.

Cerimoniário pontifício de cinco Papas

 O trabalho pastoral em San Bendetto deu ensejo para os Arautos serem acompanhados muito de perto por uma figura de inestimável valia: seu reitor, Mons. Angelo Di Pasquale.

Este sacerdote, cuja vida foi empregada em serviços de alto gabarito na Secretaria de Estado, além do encargo de cerimoniário pontifício por quarenta e dois anos, deu à instituição uma orientação segura ditada pela voz da experiência, que apenas por poucos poderia ser superada. Chegou a afirmar: “Veio um homem enviado por Deus, chamado João, que trouxe à Igreja e favoreceu na Igreja o desenvolvimento desse carisma que distingue os Arautos do Evangelho e todos aqueles que participam de sua espiritualidade. E tive a oportunidade de conhecer dito carisma de perto, já com a sua presença na Igreja de San Benedetto in Piscinula, da qual sou reitor, e recentemente visitando diversas casas do setor masculino e feminino no Brasil e na Espanha. Uma espiritualidade verdadeiramente própria, com a vida contemplativa, que não quer dizer não fazer nada, mas adorar o Senhor, falar com Ele e escutá-Lo; e que se manifesta no amor e dedicação ao próximo. E os Arautos tiveram esse grande desenvolvimento porque souberam unir a vida ativa à vida contemplativa, na vida comunitária que os faz sentir todos irmãos e irmãs, filhos do mesmo pai”.

 As graças concedidas desde então pela Providência e o ingresso de grande número de vocações não tardaram a chamar a atenção de Sua Santidade Bento XVI. Em Luz do mundo, o livro-entrevista publicado em coautoria com Peter Seewald, ele declarou: “Vê-se que o Cristianismo, neste momento, também está desenvolvendo uma criatividade totalmente nova. No Brasil, por exemplo, de um lado se registra um forte crescimento das seitas, com frequência muito equivocadas, por prometerem essencialmente riqueza e sucesso exterior; por outro lado, se presencia também grandes renascimentos católicos, um dinâmico florescer de novos movimentos como, por exemplo, os Arautos do Evangelho, jovens cheios de entusiasmo por terem reconhecido em Cristo o Filho de Deus, e desejosos de anunciá-Lo ao mundo”.

Um testemunho autorizado, o do Cardeal Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo Emérito de Aparecida, sobre o Apostolado do Oratório Maria Rainha dos Corações, proferido diante de milhares de assistentes reunidos no Santuário Nacional: “O apostolado de promover a devoção a Nossa Senhora é sempre muito bem-vindo, porque é através de Maria que nós chegamos a Jesus: ‘Ad Iesum per Mariam – a Jesus por Maria’. De modo que a nossa Mãe do Céu deseja que nos tornemos, cada um de nós, filhos e filhas de Deus cada vez mais perfeitos, discípulos e missionários de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo”.

A fidelidade à doutrina da Igreja, aliada à observância minuciosa das orientações recebidas da Sagrada Hierarquia tornou os Arautos do Evangelho uma instituição em pleno desenvolvimento no mundo inteiro. Sem retroceder nas vias até agora trilhadas, colocamo-nos aos pés de Maria para ouvir as palavras que o Filho reclinado em seus braços nos dirige, como outrora aos Apóstolos: “Tende confiança. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33). 

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Fonte: Revista Arautos do Evangelho, Arautos do Evangelho· Julho 2017